quinta-feira, 10 de junho de 2010

Gambás e gatos

Uma vez eu tive um grave conflito com um gambá que invadiu o sótão da minha casa. Que fique claro que me refiro a um animal, e não a um ser humano que beba demais. Eu não trataria ninguém de maneira tão desrespeitosa, uma vez que eu não sou muito diferente de um deles. Talvez só o que nos distinga seja a quantidade ingerida e o “modus vivendi”. Naquela ocasião, eu precisava me desfazer do animalzinho, porque ele me causava muitos transtornos. Senti também que a minha mulher não aguentaria dois gambás em casa. Um de nós tinha que sair. Como ele não se prontificou, apelei para especialistas da área. Um vizinho achou que a solução seria matá-lo, com o que eu não concordei. Este seria o recurso extremo. Encontrei outra pessoa mais diplomática. Acertado o preço e a estratégia de ação, ela desalojou o gambá e me reintegrou na posse. Prevaleceu o bom senso de ambas as partes.
Pensei que os meus problemas estavam resolvidos. Ingenuidade minha. Como dizia Camões: “onde pode esconder-se um fraco humano, onde terá segura a curta vida, que não se arme e se indigne o céu sereno, contra um bicho da terra tão pequeno”. Aqui o “bicho” sou eu. Pois não é que, quarta-feira passada, um gato invadiu a minha casa.
As portas da área de serviço estavam abertas e por lá o felino adentrou. Mas a sua posse viciada foi flagrada. O esbulho foi constatado pelo meu neto Iago. Quando ele entrou naquela dependência, defrontou-se com o felino. Tratou logo de proteger a posse da família, fazendo uso do desforço pessoal, coisa que a lei admite até com humanos. Não obteve êxito. O gato assustou-se e saiu em tresloucada fuga. Dirigiu-se a uma porta e teve um impacto violento. Ela é envidraçada. O mesmo ocorreu contra uma janela, onde ele teve o segundo choque. Tonto, com dores e assustado, o bichano não tinha condições emocionais de administrar a situação com racionalidade. Se é que alguma vez o teve. Assim, pulou para cima da máquina de lavar roupas, que estava com a tampa aberta e nela refugiou-se. Pronto, estava causado o impasse.
Não permiti que ninguém tocasse nele, já que ele estava em pânico e agressivo. Era uma situação de alto risco. Tentei persuadi-lo a sair pelos meios pacíficos. Iniciei uma negociação. Dei-lhe um prazo de uma hora para se retirar. Ele não saiu. Esgotados os meios civis e pacíficos, a saída era apelar para a força. “Quando a toga não resolve, usa-se a espada”. O exército seria uma força desproporcional, pensei. A polícia estava fora de cogitação, pois eles usam armas e poderia haver um confronto com graves conseqüências. Liguei para o Corpo de Bombeiros de Sombrio, e fui prontamente socorrido. Vieram três corajosos “soldados do fogo”, devidamente preparados e equipados. Imediatamente expulsaram o invasor. Fui mais uma vez reintegrado na posse. Agora estou me preparando até para ataques aéreos (morcegos, marimbondos ou pássaros). Lembra-te dos romanos: “si vis pacem para bellum”.

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