domingo, 27 de junho de 2010

Anjos abandonados

Toda a criança é um anjinho e o adolescente um anjo que cresceu um pouco. E os anjos são delicados, precisam de cuidado e carinho. Às vezes alguns adultos ignoram que indiferença, abandono ou maus tratos em relação a eles os fazem sofrer e os marcam para o resto de suas vidas. Hoje, especificamente, quero falar dos pais solteiros ou separados, que abandonam seus filhos, imaginando que, pelo simples fato de pagarem alimentos, para não ir para a cadeia, já cumpriram com suas obrigações. Nestes casos, os filhos são criados só pelas mães, coitadas. Por mais que elas se esforcem, jamais suprirão a figura do pai, porque a mulher tem uma natureza diferente da do homem, e vice-versa.

A criança sente medo e insegurança. Medo de tudo; do escuro, do bicho-papão, ou de que os pais se separem ou morram. Ainda que a mãe esteja presente, o filho sente uma falta enorme do pai. A simples presença dele; o ser pega no colo, ter uma mão estendida para atravessar a rua, ouvir a sua voz, sentir o seu cheiro, dá à criança uma sensação de segurança e felicidade. Molda-lhe o caráter.

Ah... A falta que ele faz no dia do aniversário do filho, no Natal, no Dia dos Pais, em especial, quando há uma festinha na escola. Os pais dos amiguinhos estão todos lá, mas o daquela criança que se esconde num canto pra chorar não. E quem vai enxugar suas lágrimas? O pai ausente não sabe o mal que está fazendo para um ser frágil. Ignora não só as lágrimas disfarçadas, como também o soluço sufocado no meio da noite pra não acordar a mãe. E o fim-de-semana, que era para ser de alegria, é para a criança esquecida mais um momento de tristeza, quando ela vê outros meninos e meninas nas ruas, nas praças, nas praias ou num ambiente qualquer acompanhadas de seus pais. Não me refiro ao caso de uma criança cujo pai morreu, pois esta realidade ela absorve. Sente tristeza e saudade, é claro, mas não a sensação de abandono, que dói muito mais.

Ao entrarem na adolescência os anjos esquecidos, externarão suas revoltas. Se for menino, procurará as drogas; será traficante ou um criminoso qualquer, uma vez que não conhece o rigor das leis. Se menina, poderá cometer outros deslizes ou até loucuras, como, “dar suas pérolas aos porcos”; jogando no lixo a delicadeza, a graça e a beleza de seu corpo juvenil, e do seu sorriso de criança. Poderá até cair na promiscuidade, ou, um mal menor: vir a ter uma gravidez precoce, que vai lhe atrapalhar os estudos e dificultar a concretização de seus sonhos. Quem sabe vislumbrará num homem mais velho a figura do pai, mesclada com a de homem. Aí ternura e sexo se confundem perigosamente. Pior ainda se, quando criança, a mãe arrumou outro companheiro que abusou da sua ingenuidade, daí então algo de mais grave pode lhe acontecer. Assim, cuidado, meu raro e paciente leitor, quando julgares um adolescente que fez algo errado, ou que tenha uma vida tumultuada. Observa bem se ele teve um pai presente como tu tiveste a sorte de ter. E se fores pai, olha bem o que estás fazendo com o teu filho e, principalmente, com a tua filha.

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